quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Steve Jobs - Stay hungry, stay foolish "Continuem com fome. Continuem bobos"

Mantenha-se faminto por coisas novas, mantenha-se certo de sua ignorância. Continue ávido por aprender, continue ingênuo e humilde para procurar. Tenha fome de vida, sede de descobrir. Stay hungry, stay foolish.

Imagino que muitas de vocês, queridas leitoras, já devem ter assistido o vídeo de Steve Jobs dando uma palestra no encerramento do ano letivo de 2005, na Universidade de Stanford. Admito que até recentemente eu não havia dado muita bola, talvez pela falta de uma recomendação mais persuasiva, ou uma referência de fato encorajadora.

Semanas atrás, contudo, escrevi um texto sobre o caráter inovador da Apple e precisei ver o tal vídeo. Confesso que tive uma arrebatadora surpresa, num daqueles episódios em que as palavras parecem se encaixar num momento de vida particular, dentro de um contexto e uma filosofia de vida que pareço viver sem dar-me conta. Para quem ainda não viu - e para quem quer rever - aí vai:


(Legendado em duas partes: 1a e 2a.)

Se você resolveu pular o vídeo, não pule minhas considerações a respeito - senão não faz sentido você estar aqui... Obrigado.

Jobs não tem diploma universitário, pois largou o vínculo formal com a instituição após o primeiro semestre, embora não tenha deixado o campus. Parece um contra-senso esse tipo de afirmação logo no início de uma palestra para jovens formandos, mas suas palavras mostram exatamente o contrário. Elas configuram um valioso alerta à forma como se encara uma graduação, aos valores ocultos num ambiente educacional e ao tipo de lição que essa experiência pode oferecer.

Ele divide seu discurso em três histórias de vida muito particulares:

Connecting the dots (ligando os pontos): De família pobre, foi entregue para ser adotado mas sua mãe natural, sem formação universitária, queria que ele crescesse num lar de pessoas formadas. Os candidatos a adoção não tinham, contudo, o desejado diploma e sua mãe biológica se recusou a levar o processo adiante. Meses mais tarde, porém, ela concordou, com a condição que eles encaminhassem o pequeno Steve à Universidade – o que foi cumprido dezessete anos depois. Mas a anuidade da escola selecionada era comparável a Stanford e todas as economias da família seriam gastas em sua educação - algo em que ele não conseguia ver valor.

Mesmo tendo se desligado da instituição, ele continuou a freqüentar algumas aulas que lhe interessavam, dormindo no chão dos quartos dos amigos nos dormitórios e reciclando latas de refrigerantes para comprar comida. Aos domingos, andava dez quilômetros até um templo Hare Krishna local para ter uma refeição decente. E amava essa rotina.

Enquanto admirava os belos cartazes da Universidade de Reed College, Jobs decidiu fazer aulas de caligrafia, onde aprendeu tudo sobre tipografia, padrões de letras, espaçamento, serifas etc. Sutilezas da arte, que a ciência não consegue alcançar. Nada parecia ter um sentido ou aplicação imediata, mas foram fundamentais quando, dez anos depois, concebeu o primeiro Macintosh – o primeiro computador com uma tipografia bonita e que tornou-se padrão nos computadores pessoais.

Algo que jamais teria acontecido se ele não largasse seu curso e assistisse às aulas de caligrafia. E se o Windows não o tivesse copiado, nenhum PC teria esse belo senso estético. Era uma previsão muito difícil de ser feita na época, mas um conseqüência facilmente atribuída a uma causa, dez anos mais tarde. Você não consegue ligar os pontos olhando para frente, somente para trás. Então você tem que acreditar que em algum momento os pontos serão ligados, pois é isso que lhe dará a força para seguir adiante – e fará toda a diferença.

Love and Loss (amor e perdas): Em dez anos a empresa de garagem de Steve Jobs e Steve Wozniak transformara-se numa companhia de dois bilhões de dólares e quatro mil empregados. O Macintosh fora lançado um ano antes de ele completar 30 anos de idade. E ser demitido.

Como você é demitido da empresa que você fundou? perguntava-se. Foi um evento público e ele pensou em largar a vida de empreendedor. Um remédio amargo, mas o paciente precisava dele. Mas ele ainda amava o que fazia, apesar de ter sido rejeitado – e decidiu recomeçar.

O peso de ter sido um sucesso foi substituído, mais adiante, pela leveza de ser um iniciante novamente, com menos certezas sobre o mundo. No que considera um dos períodos mais criativos da sua vida ele iniciou novas companhias como a NeXT e a Pixar, que viria a criar o primeiro desenho animado por computadores (Toy Story, 1995), tornando-se o estúdio de animação mais bem-sucedido no mundo. Foi também nessa época que se apaixonou por Lorene, a mulher que viria a ser sua esposa e com quem constituiria família.

Numa reviravolta do destino, Jobs retornou às suas origens quando a Apple comprou a Next usando, posteriormente, a base tecnológica desta como alicerce para o seu ressurgimento.

O que o manteve na luta foi amar o que fazia. "Você precisa descobrir o que realmente você ama. O trabalho vai ocupar grande parte da sua vida e a única maneira de você alcançar alguma satisfação é fazendo um bom trabalho – o que você só conseguirá se amar o que faz. Se você ainda não tiver encontrado, continue procurando." Um perfeito círculo virtuoso, talvez utópico, mas alcançável.

Death (morte): Aos dezessete anos Jobs ouviu a célebre frase "Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia você vai acertar". As expectativas externas, orgulho, medo e vergonha de fracassar, tudo se vai ante a perspectiva da morte. "Lembrar-se que vai morrer é a melhor maneira de evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu; não há razão para não seguir seu coração."

Um anos antes, Jobs havia sido diagnosticado com um câncer no pâncreas. Sem nem saber o que era o pâncreas, recebeu uma sentença de que teria entre três e seis meses de vida. Uma biópsia posterior revelou, contudo, um tipo muito raro de câncer, mas curável através de cirurgia - o que levou os médicos às lágrimas, segundo Lorane, presente ao exame.
"Foi o mais perto que cheguei da morte e espero que continue sendo por mais algumas décadas. (...) Durante esse período a morte foi mais do que um conceito abstrato para mim. Ninguém quer morrer, nem mesmo as pessoas que querem ir para o Céu."

"A morte é o destino que nos espera. Vocês são jovens agora, mas um dia serão velhos. Então não desperdicem esse período vivendo a vida de outra pessoa. Não sejam aprisionados por dogmas – que significa viver a vida segundo o pensamento de outras pessoas."

"Tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição pois eles sabem, de alguma forma, o que verdadeiramente você haverá de se tornar. Tudo o mais é secundário."

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Seu conselho final é tirado de um antigo almanaque que ele gostava de consultar quando mais novo. Uma espécie de enciclopédia num volume só. Um Google analógico, em papel. A contra-capa trazia a emblemática frase stay hungry, stay foolish.

Mantenha-se faminto por coisas novas, mantenha-se certo de sua ignorância. Continue ávido por aprender, continue ingênuo e humilde para procurar. Tenha fome de vida, sede de descobrir. Stay hungry, stay foolish.


Texto publicado originalmente em: http://www.naopossoevitar.com.br/2009/05/stay-hungry-stay-foolish.html
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